O Ministério das Relações Exteriores emitiu nota oficial nesta terça-feira (9) repudiando veementemente declarações de representantes do governo norte-americano que sugeriram possível uso de sanções econômicas ou força militar em relação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. O Itamaraty classificou como “inadmissível” qualquer tentativa de interferência externa nos assuntos internos brasileiros.
A crise diplomática teve início quando Karoline Leavitt, secretária de imprensa da Casa Branca, afirmou que o governo dos Estados Unidos considera “prioridade máxima” a liberdade de expressão no contexto do julgamento de Bolsonaro, acrescentando que o presidente Donald Trump “não tem medo de usar o poderio econômico e militar” para proteger esse direito worldwide. As declarações foram reproduzidas pela agência Reuters.
Reações brasileiras
Em discurso em Manaus, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou para a gravidade do momento: “Esses caras tiveram a pachorra de mandar gente para os Estados Unidos para falar mal do Brasil”. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, foi mais enfática ao denunciar o que chamou de “conspiração da família Bolsonaro contra o Brasil”, referindo-se a gestões do deputado Eduardo Bolsonaro junto ao governo norte-americano.
Andamento do julgamento
Enquanto isso, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal avançou no julgamento histórico sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022. Os ministros Alexandre de Moraes (relator) e Flávio Dino votaram pela condenação de Bolsonaro e outros sete réus. A sessão foi suspensa e será retomada nesta quarta-feira (10) com os votos dos ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
Posicionamento diplomático
A nota do Itamaraty enfatizou que “o primeiro passo para proteger a liberdade de expressão é justamente defender a democracia e respeitar a vontade popular expressa nas urnas”. O documento reforçou que os três Poderes da República “não se intimidarão por qualquer forma de atentado à nossa soberania”.
O episódio representa o ponto mais tenso nas relações bilaterais desde o início do governo Lula, com potencial para impactar negativamente a cooperação econômica e estratégica entre os dois maiores países das Américas.