Em meio às tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos, o governo de Goiás e representantes do setor de saúde anunciaram no último sábado, 26, a criação de um Fórum Permanente para enfrentar os possíveis efeitos da guerra tarifária na área da saúde. A iniciativa busca replicar o êxito do comitê formado durante a pandemia de COVID-19, adaptando-o aos novos desafios econômicos.
O secretário estadual da Saúde, Rasível Santos, apresentou estimativas alarmantes: a eventual imposição de tarifas recíprocas poderia gerar um impacto anual de US$ 3,25 bilhões no sistema de saúde goiano. Desse total, US$ 1,6 bilhão afetariam diretamente o SUS, enquanto a rede privada enfrentaria custos adicionais de US$ 1,65 bilhão. Santos destacou que o estado já compromete 14,31% de seu orçamento com saúde, superando em significativos 20% o piso constitucional de 12%.
O cenário preocupa profundamente os gestores e profissionais de saúde. Hospitais privados enfrentam crescentes dificuldades financeiras, com cinco unidades já fechadas em 2025 e outras dez em situação de risco. A dependência de equipamentos médicos de alta complexidade – muitos com peças e insumos exclusivamente importados dos EUA – representa outro ponto crítico, assim como a possível escassez de medicamentos essenciais, particularmente os oncológicos e imunobiológicos, cujas patentes pertencem a laboratórios norte-americanos.
Diante desses desafios, o fórum estabeleceu um plano de ação baseado em três prioridades. A primeira é desenvolver estratégias para garantir o abastecimento contínuo de insumos críticos. A segunda envolve intensificar o diálogo com o governo federal, buscando isenções tarifárias para produtos essenciais à saúde. A terceira prevê a ampliação do debate para o Fórum de Governadores, onde o governador Ronaldo Caiado defenderá uma solução nacional coordenada.
A composição do grupo reflete a abrangência da crise potencial. Participam da iniciativa desde associações hospitalares como a Aehg até operadoras de saúde como a Unimed Goiânia, passando por sindicatos de especialidades médicas e instituições de referência em diversas áreas. Essa ampla representatividade evidencia o consenso sobre a urgência em proteger o sistema de saúde goiano contra os efeitos da disputa comercial internacional.
As atividades do fórum terão início em agosto, com reuniões quinzenais que monitorarão a evolução da situação e implementarão medidas preventivas. O modelo adotado por Goiás pode servir de referência para outros estados que enfrentam desafios semelhantes, destacando-se como exemplo de articulação entre poder público e iniciativa privada em prol da saúde da população.